quarta-feira, 27 de maio de 2009

Experiências Efêmeras.

Hoje me peguei sem ter o que fazer na internet. Já havia lido todas as notícias do dia, preparado um roteiro de focus group para amanhã, lido uma análise de pesquisa quantitativa quando resolvi abrir o YouTube e tentar procurar por músicas antigas.

Dias atrás recordei de algumas músicas que eu era apaixonado - como Sandy & Junior - e resolvi procurá-las na internet para relembrá-las e ter algum contato nostálgico com minha infância.

Quando vi, já havia passado por diversas páginas de músicas, ouvindo uma a uma, sempre pensando: "nossa, eu conheço essa música". Cada música lembrava um momento da minha vida. Mas por que eu não lembrava dessas músicas de imediato e por que não estão no repertório de músicas que eu ouço com frequência? Quem sabe possa soar como brega ou como anti-culto ter músicas como essas em um CD no carro, porém minha proposta é chegar mais fundo nessa discussão.

Cito agora outro fato para embasar o que vou dizer. Estive em um bar chamado Bossa Nova, que deveria tocar apenas Bossa Nova e Samba, seja pelo nome do bar ou pela temática. Quando cheguei lá, sentei e tentei ouvir a música que eu estava esperando. Não era possível.

As pessoas preferiam competir com o som da música. Quanto maior a amplitude da música, mais as pessoas gritavam para tentar descolar um paquera ou contar as últimas novidades do trabalho, que teria sido um saco naquele dia. Para quê então dizer que se vai lá para ouvir Bossa Nova?

Esse fato, com o meu desejo por músicas esquecidas, refletem bem o que pensam os famosos apocalípticos e integrados de Humberto Eco. Apocalípticos são aqueles que, em termos simples, desgostam da hipótese de transformar música erudita em produto cultural para as massas, bem como transformar a cultura popular em consumo de massas - para eles cada coisa deve estar no seu lugar. Já os integrados creem que cada cultura é importante da sua maneira, algumas vezes possa ser mais rica a cultura da Malásia do que a da França e que sim, e erudição e o popular podem ser transmitidos para uma massa consumidora.

Em termos simples, nós - seres humanos - que tiveram contato com o consumo de massa, deixamos de viver experiências estéticas profundas. Depois de olhar milhares de vezes a Monalisa na televisão, em fotografias, livros de histórias e reproduções baratas, pra que serve olhar a verdadeira que se encontra no Louvre
? O que deveria ser sublime se transforma em uma experiência estética quase nula.

Quando ouvimos uma música milhares de vezes, ela cansa e não mais a procuramos. São experiências efêmeras que vivenciamos para aquele momento, pois logo em seguida, virão outros milhares de produtos culturais para lotar as nossas cabeças. Quem se lembra de quando ficávamos tentando gravar uma música do rádio para um fita cassete? Tinha que ser naquela hora, se não a experiência sumia das ondas do rádio. Hoje, está tudo à mão.

Você quer ver o Louvre
? Faça um tour virtual. Se quer ouvir Bossa Nova, vá até o seu programa de download e encha sua pasta de arquivos com o melhor da música brasileira.

Eu sou um pouco apocalíptico, sim. Acredito que os meios de comunicação mais alienam do que educam. Acredito que a experiência estética das pessoas está ligada à moda e não a conceitos fundamentais.

Acredito, também, que amanhã não lembrarei das músicas, nem das temáticas dos filmes que verei hoje, porque tudo vai passar tão rápido que nada vai ficar em mim, apenas a lembrança de já ter visto aquilo, em algum momento, em algum lugar. Ou seja, a cultura é uma coisa muito bonita de ser dita e conceituada, mas quase nenhum de nós é capaz de aprecipa-la na sua plenitude - parte pela indústria cultural, parte pelo nosso gosto por reproduções técnicas.

domingo, 10 de maio de 2009

Animações Francesas.

Acabei de chegar de uma Mostra realizada pela Cinemateca de Curitiba, que reuniu um acervo de 60 curta-metragens de animações francesas. Um bom programa para um domingo de dia das mães.

Eu sempre fui fã de Walt Disney, mas confesso que fiquei entusiasmado com os produtos cinematográficos que a França pode oferecer. Já havia sido cativado por Bicicletas de Belleville e agora, pela gama de produções selecionadas pela curadoria da Cinemateca.

Cinema lotado enquanto os frames repletos de histórias inteligentes passavam na tela. Diferente das produções hollywoodianas, as francesas possuem um quê de "arte para poucos".

Disney criava desenhos estereotipados com o que era perfeito para impregnar no estilo de vida americano - sempre as belas princesas, os honrosos cavaleiros e as histórias baseadas em lutas entre o bem e o mal.

Já as animações francesas falavam do bem e do mal com um senso crítico. Mostravam o ser humano como alguém cruel que, sem muita razão, trava guerras, cria preconceitos ou destrói a natureza do qual ele mesmo depende.

Por mais atual que seja essa temática, a coletânea de filmes eram obras de arte em movimento, algumas em aquarela, outras em traço e algumas até abstratas. Era quase um encontro com o sublime, uma experiêcia estética que jogou na cara de todos os espectadores uma realidade cruel da qual fazemos parte.

Parabéns à curadoria da Cinemateca.

Para saber mais: Bem Paraná
Para quem não assistiu Bicicletas de Belleville.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sonhos Perdidos.

Sempre sonhei em voar. Andar pelos ares significa liberdade - pura ilusão infantil. Quando eu era pequeno, poucas vezes tive amigos, em outras era humilhado na escola. Da vez que fui com a calça ao avesso, nem se fala. Meus sonhos eram a tal da fuga da realidade, o lugar secreto.

Minha avó insistia que a educação da escola pública era a melhor para os seus netinhos - talvez ainda existam esses resquícios do Estado Novo na cabeça da pobre senhora. Lá, meus sonhos começaram a se perder.

Mesmo que meu grande sonho tenha sido voar, hoje o que me resta é sonhar com um cliente que vai aprovar uma campanha, com um projeto que vai dar certo ou ainda em conseguir fugir da moça do Estar - pobre moça do Estar, deve ser muito mal amada.

Esses desejos não são como aqueles sonhos em que éramos o super-herói e com a trilha sonora de Trem da Alegria em que conseguimos nos transformar em ThunderCats. Onde está o mistério do Mestre dos Magos para sempre nos dar um sábio conselho? A resposta é óbvia, na nossa imaginação.

Meu professor de semiótica sempre dizia que o passado é um processo de construção, que junto do presente (que é hipótese), formam a concretização do futuro. Quer dizer que PowerRangers construiu o meu futuro?

Confesso que hoje, esses sonhos perdidos são fundamentais para mim. O crescer só é possível se estivermos com um foco em algo. Se meu foco é em chegar longe, voltamos ao desejo de voar.

Pensando nisso lembrei que sempre me disseram "se você quer voar, basta apenas acreditar que você pode" - filosofia chinesa barata que motivou uma segunda-feira inteira, quando eu acreditei que podia, se não voar, pegar um avião.

domingo, 3 de maio de 2009

O sentimento de união.

Hoje em dia os gostos são muito distintos. Existem os que gostam de vinho, outros que gostam de cerveja, mas um assunto que grande parte das pessoas têm na ponta da língua é sobre futebol.

Não cabe aqui comparar o futebol com a antiga política do pão e circo, uma vez que é um tema que lota os noticiários e dá à população assuntos a mais para se preocupar do quê com a queda na bolsa de valores ou, quem sabe, a nova pandemia dos amigos suínos.

O futebol é mais que um simples jogo, ele é capaz de dar a uma massa o sentimento de união, uma linha que liga a todos aqueles que lutam pela mesma marca. Para o marketing é um prato cheio, uma vez que não possui apenas consumidores, mas milhares de advocates.

Barack Obama usou em sua campanha o sentimendo do sonho americano restaurado, mas no Brasil a única coisa que realmente motiva a população a sair de suas casas, festejar, marcar encontros e ficar feliz é quando o seu time vence um campeonato. O torcedor sonha, sofre, vive a emoção do time - alguns bobos vestidos com roupas iguais correndo atrás de uma bola para tentar colocá-la dentro de uma rede.

Particularmente, não gosto de futebol. 

Porém, sei reconhecer que é um dos poucos sentimentos - como a religião - que são capazes de ligar as pessoas por um sentimento de pertencimento. Os publicitários deveriam usar esse sentimento de forma mais inteligente. 

Mãos a obra para a Copa, amigos criativos.